No balanço do busão

No momento bom humor da semana, faço aqui nesse espaço a/por mim cedido, uma análise sobre o glorioso ato de andar de ônibus. Tarefa diária a mim concedida, uma alegria imensa, mas que rende a mim diversões extremas, mesmo que eu dê risada sozinha.

A saga já começa no momento em que você entra no ônibus. Parece que ao colocar o pé dentro dele, você vira o único ser do mundo e as pessoas só tem olhos pra você. É o momento em que tudo pode acontecer de errado, que qualquer objeto que tiver na sua mão vai cair. Há lugares por todo ônibus, mas você senta na primeira poltrona que aparece na frente, você não olha pro lado. Você quer sentar a todo custo, é uma questão de honra antes que você morra de aflição.

Poltrona encontrada, vamos em frente. De longe você você observa no próximo ponto aquela pessoa notavelmentre desagradável, que faz tempo que não entra em um banheiro e tomou aquele traguinho. Logo você olha pra trás, vê vários bancos vazios e fica um pouco aliviada, com tantos bancos vazios ele não vai sentar aqui. Naquele momento a Lei de Murphy se faz presente, todas as pessoas possíveis entram, ocupam todos os lugares vazios e aquela pessoa alcoolizada entra por último. Onde ela vai sentar? SIM, AO SEU LADO! Você simplesmente vira o rosto e faz todo caminho olhando a rua e ouvindo a senhorinha no banco de trás falando e falando e falando.

O menino com fones no ouvido, escutando "NX Zero", quieto, óculos escuros, franjinha nos olhos.

Ao lado dele aquela senhorinha muito comunacativa dá aquela cutucadinha e pede as horas.

O menino diz, coloca os fones no ouvido novamente.

Outra cutucadinha e ela pede se o ônibus vai parar no ponto do hospital.

O menino confirma, coloca os fones no ouvido novamente.

OUTRA CUTUCADINHA.

O MENINO RESPIRA FUNDO.

E a senhorinha começa a contar porque vai parar no ponto. O problema com a filha, com o marido, com ela mesma, com a cidade, o país e o mundo.

O menino sorri, levanta bem o fone de ouvido. Para mostrar pra senhorinha e pensa " Estou colocando esse fone e não vou ouvir mais nada do que a sennhora fala".

A senhorinha fica sem graça, mas quando olha para cima, vê o passageiro em pé que está ouvindo o que ela diz.

Na verdade esse passageiro em pé está toltalmente constrangido com todas as encoxadas sofridas, ele ouve aquele senhorinha para esquecer o cotovelo que está bem no nariz dele e aquele "cheiro" desagradável por causa do "esquecimento" do moço alcolizado.

No outro lado do corredor há uma moça quieta, notavelmente quieta. É que ela acabou de virar a cabeça para o lado e o que aparecer bem na frente da cara dela? UMA BUNDA. Sim, a bunda do moço constrangido que estava sendo encoxado.

A moça resolveu virar o pescoço, ver o movimento do ônibus e deu de cara com uma BUNDA. Ela virou assustada e sentiu aquela vontade de dizer "Tem uma bunda na minha cara", mas dizer pra quem? Pra pessoa do lado que ri por dentro por causa da cara de susto da moça?

E você lá, bêbada com o cheiro do criatura ao seu lado. Assuntos diferentes em cada poltrona, a senhorinha ainda falando da vida, cabecinhas balançando sincronizadamente.

E você que pensava que a criatura alcolizada ia descer no próximo ponto, mas não ele vai descer no mesmo que você...

Thaza