Seguia os trilhos até que um cruzamento juntou e os tornou paralelos.
Podia ver claramente o que havia de errado no trilho ao lado.
Resolveu acompanhar no mesmo passo, aos poucos conquistou confiança. Divertiam-se, mas as vezes um passava a frente do outro, afastavam-se, mas de vez em quando voltavam ao equilíbrio.
Quando via que algo poderia dar errado, antecipadamente pedia auxílio. De prontidão o novo acompanhante ajudava, sem pestanejar. Nada era muito sério, mas sabiam que seguiam a vida juntos.
Os dois eram meio esquivos, fugiam de assuntos de caráter sentimental. Sempre negócios, negócios, resolução de problemas "concretos", mas sentimento ainda não.
Ao lado pode notar que o trilho estava meio vazio, olhou para trás. Algo estava errado. Pararam, sentaram, olharam-se. Assumiu, algo o incomodava, mas preferia banir o assunto.
Assunto banido, mas as mãos dele não paravam de se mexer, estava nervoso.
Sentaram-se novamente, invadiu o limite e sugou tudo o que deveria saber. O que deveria saber garantiria a calma das mãos nervosas.
Começou ali uma família.
Um vida paralela, unida. Cada passo era sabido de ambos, cada sentimento ruim ou bom, cada tropeço.
Estavam perto caso precisassem de uma mão para segurar, um abraço para acalmar, um carinho para suprir um vazio.
Desde então nunca mais se separaram. Os trilhos correm juntos, exatamente na mesma direção. Mas ao longe podem ver que os caminhos seguem para lados opostos.
Mas sabem que em qualquer lugar há um porto para assegurar que nunca estarão sozinhos.
"Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos".
Vinícius de Moraes